Published online by Cambridge University Press: 19 May 2020
Este artigo faz uma análise das práticas portuárias empregadas no comércio de africanos na cidade do Rio de Janeiro durante as duas primeiras décadas do século dezenove. A partir da diferenciação conceitual entre desembarque e descarga final das arqueações de cativos, novos dados obtidos em fontes primárias inéditas foram confrontados com relatos de cronistas e com fontes documentais tradicionalmente conhecidas. Sob essa perspectiva, o texto apresenta um panorama sólido e plausível sobre o processo de importação de escravizados, resgatando a importância do papel da alfândega do Rio de Janeiro como primeiro local de desembarque, e deslocando para o litoral da Saúde, no antigo bairro do Valongo, o local de descarga final das arqueações de africanos. Trata-se, portanto, de um cenário divergente da teoria corrente, segundo a qual o Cais do Valongo, localizado na enseada do Valonguinho, teria sido a porta de entrada dos milhares de cativos africanos que chegaram ao Rio de Janeiro.
In this article, we analyze the practices employed at the ports of Rio de Janeiro pertaining to the African slave trade during the two first decades of the nineteenth century. Based on the conceptual differences between disembarkation and final discharge of the enslaved, we compare new data obtained from unpublished primary sources with chroniclers' accounts and previously known historical documents. From this perspective, the text presents a consistent and plausible vision of the slave importation process, revealing the importance of the Customs House of Rio de Janeiro as the first landing place, and moving to the littoral of Saúde, in the old neighborhood of Valongo, the site of final discharge of African captives. This is in contrast to the current theory that the Valongo Wharf, located on the Valonguinho Cove, would have been the gateway for the thousands of African captives who arrived in Rio de Janeiro.